Apresentação de Balet - 2012
Gabriela, meu amor,
Muito tempo se passou desde que estive neste blog pela última vez falando com você.
Nestes últimos 3 anos estivemos sempre juntos. Te vi recomeçar uma nova vida na Escola Lua Nova, novos amigos, novos professores. Nossas idas e vindas, todos os dias, você e eu, no carro, cantamos, conversamos, rimos, brigamos ... comemos castanhas .... rsrsrs ... para mim tem sido uma experiência excepcional estas duas horas que ficamos só nós dois. Você faz muitas perguntas ... rsrsrs ... eu tento responder a todas com muita sinceridade.
Hoje, você está em Curitiba, de férias, na casa de tua tia, junto com teus primos. Estou sozinho em casa, o silêncio que toma conta do lugar é ensurdecedor! Sinto tua falta! Porisso lembrei de vir aqui para falar sobre um assunto importante que temos debatido, você e eu, com alguma frequência.
Religião.
Nunca escondi de você que sou ateu e que não acredito na força que as pessoas chamam deus.
Já com a tua idade, 8 anos, desconfiava que alguma coisa estava errada com o que as pessoas diziam sobre um ser superior. Nunca vi, nem ouvi, sem senti nada que me levasse a crer que havia alguém que sabia de tudo, via e ouvia tudo, tinha as respostas para todas as perguntas.
Assim, fui crescendo e desconfiando. As pessoas ao meu redor, a familia, os amigos de escola, vizinhos, todos diziam acreditar numa força, numa energia, num criador! À medida que crescia, fui percebendo que não estava só nas minhas dúvidas: outras pessoas também não acreditam em deus e, pasme, são felizes! Porque não eu? Qual a razão que me fazia acreditar nesta entidade tão poderosa e superior?
Lembro que, ainda criança, minha mãe dizia que deus nos observava e anotava tudo o que fazíamos de errado. Eu imaginava um livro gigante, um velho barbudo com uma caneta enorme, escrevendo coisas sobre mim ... como era possível uma coisa dessas? Costumava pensar muito.
Enfim, ao crescer e conhecer outras pessoas, ler muitos livros, ouvindo muita gente, comecei a formar na minha cabeça uma opinião: não preciso acreditar em nada que não vejo, toco, ouço ou sinto. Tenho uma consciência e é isso que importa. O que devo fazer em relação aos outros é unicamente problema meu, não tenho contas a prestar a um ente invisível! Não existe pecado ou castigo quando se faz algo errado, existe, sim, sua consciência de saber que alguém se prejudicou por um ato seu, por um gesto, por uma ação. E isso vai ficar em você, te deixará um sentimento amargo, uma culpa, uma lição para que você não repita o mesmo erro. Sem que um velho barbudo fique anotando tudo para me castigar depois!
A punição pelos nossos erros são consequência dos nossos erros. Pessoas esclarecidas, como você e eu, que vivem de forma organizada em familia, estudam, lêem, não precisam esperar que alguém decida o que é certo ou errado: não há nenhum lider religioso, de nenhuma religião, que possa me dizer o que eu devo fazer.
Temos conversado a respeito de "consequências". São as respostas que levamos frente a uma ação, quer dizer, o que você faz trará um retorno, porisso, tuas ações devem ser pensadas, calculadas, para não trazer dor. Nem a você nem a ninguém. E isso nada tem a ver com religião ou fé; é a vida nos ensinando diariamente como agir.
É claro que erramos, que levamos "porradas" da vida. Vamos amadurecendo e sabendo lidar melhor com as consequências. Todos erram, todos apanham, se houvesse um "livro" gigante não caberia tudo que de errado se faz no mundo. Não é mesmo?
Tenho meus princípios e não abro mão deles. Não foram impostos por um livro, um pastor, um rabino ou um profeta. Meus princípios são o "livro" onde eu mesmo anoto meus erros com o objetivo de corrigi-los quando for possivel. Sem culpa, sem punição, sem medo. Se magoei alguém e tenho consciência que o fiz sem querer, não me culpo. Trato de evitar fazer de novo. Se fiz de propósito, é porque quis fazer, pesei as consequências e fiz! Assumo minhas responsabilidades!
Uma lição muito importante que aprendi nos meus 52 anos de vida é que não preciso acreditar em tudo que me dizem. Por trás de cada gesto, de cada palavra, há uma intenção; vou pensar a respeito para formar meu juízo, se devo acreditar ou não. Os livros, papéis que contém muita informação, servem para nos fazer pensar ... eu não preciso acreditar que existem dragões só porque num livro li sobre dragões! É preciso discernir o que é real do imaginário, o que é possível de acontecer e o que não é; duvide daquilo que lê e ouve: com certeza você terá mais chances de acertar depois de pensar no assunto.
Minha filha, a verdade é uma variável relativa - já falei disso numa postagem anterior - que depende de vários fatores, do tempo, de quem a diz, do tom de voz, da intenção por trás da verdade. Não preciso conhecer a verdade absoluta porque ela não existe! A verdade e a mentira se confundem dentro de nós, acreditamos naquilo que queremos acreditar e não necessariamente tem que ser o que a maioria acredita.
A ciência, por exemplo, é uma verdade relativa que se move com o tempo: enquanto descobrem a cura de uma doença, outras aparecem, empresas pesquisam novas drogas pensando em ganhar dinheiro; ao mesmo tempo, precisamos dos remédios!
A religião é um amparo que as pessoas precisam para justificar seus erros, cada um a seu modo, cada religião tem sua própria fórmula de felicidade divina - como se fosse o bastante ter que esperar para ser feliz depois da morte! Quem precisa do remédio, que o tome. Eu, não.
Não quero que você deixe de acreditar em deus se achar que deve. Quero - e isso vale para todo o resto de sua vida - que você reflita quando se deparar com algum problema, com uma história, com um livro. Pense, raciocine, pergunte, quebre a cabeça! Não se deixe influenciar pelas pessoas a teu redor, você deve ser capaz de saber o que é certo, pois já errou e deve ter aprendido lições. Vai errar outras vezes, muitas, vai sofrer ... e assim construir tua própria trajetória, única, como cada um de nós constrói.
Seja você!
Aquilo que você tem embaixo do cabelo é para ser usado ... rsrsrsrsrrs ... lembra que te dizia isso???
Espero poder voltar com mais frequência neste blog. Tenho tanta coisa a te dizer ...
Te amo. Muito. Muito!

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